10.06.23
És ainda mais bela que a Lua melancólica
e escrevi sobre ela há líricas passadas...
escorriam-lhe lágrimas de sangue quando te viu
perguntou enlouquecida ao espelho do Tejo
quem das duas era a mais bela, tipo a Páris
e o prateado rio, ó Tágide, respondeu-lhe
honesto que eras tu, nova Délia.
o ritmo dos teus passos dúcteis
deu-me aos versos ritmo, versos
peregrinos a caminho da
corrente sanguínea nas veias
do poema, que te leva aos lábios finos
um ligeiro sopro primaveril
no palácio suspenso dos meus sonhos
onde a luz não chega o meu beijo secreto
da varanda vi a vida a vir
tu em forma de vida,
eu em corpo de nada
tu em ritmo constante
eu em memória fluente
e se o poema tivesse asas diria
que o levaria a pousar-te no ombro
delicado uma ave de uva no bico
a levar-te à boca, a gota de água
na garganta seca, e fosse
líquido poema infinito e repousasse
o rosto nos teus olhos sinceros.
à noite por costume encerro as pálpebras
abrindo as janelas do meu imaginário
sonhando dizer-te que foi o amor magnético
amigo impúdico que nos empurra pelas costas
para fora da nossa íntima alegórica caverna
curto circuito no poema
fiquei às escuras, tacteio
a treva à procura da vela
de clarão redondo
que no mínimo ilumina a aresta
do que penso quando passaste
de dia e que a noite me chamou
enquanto serves sorrisos ao jantar