04.08.23
de costas voltadas. De súbito
dá-se o eclipse do sol no meu coração sem fundo.
outrora intrépido, vazio agora sem esperança,
se te calas sou a criança perdida na floresta escura
à mercê de terríveis predadores que nos devoram
como as mandíbulas impiedosas, como a solidão
não me dividas em dois, nem cries o hábito
não é costume amar-te da mesma maneira
mas quando escureces o mundo que era claro e nítido
passo a ser só o sapo que saltava nas pedras
no lago de fogo vigiado pelas tuas coxas quentes.
Parti o relógio que contará os segundos
até que voltes, até que pares, odeias-me sempre
que é manhã, amas-me quando entardeço
não tenho de titubear porque o movimento do
universo é perverso o sufuciente para que me
encoste, esfolando a pele nas afiadas escarpas
da tua voz angelical de inverno rigoroso