26.06.23
O problema é como o sangue se amotina
rio desaguável a sul sem mar que desaguar
fosses essa massa imensa azul
e convergisse fluentemente até a ti
que desumano ser humano
ter sangue, o corpo ser sinal de vida e sal
anulamo-nos, morremos incultos
sem nunca receber luz verde no desejo
agrilhoar impulsos, meter cadeados nas paixões
algemar mistérios, afundar segredos, sucumbir
impele-me a ser lascivo por rebeldia erótica
lúbrica corrente artística que há no erotismo
banheira que flutua onde a mulher nua vê-se
na espuma, a tontura da água o peito túrgido
a acelaração de partículas os dedos as dobras
submundo aberto, alegoria da caverna quente
a linguagem gestual dos dedos confunde-nos
nesse fundo infinito como mar homérico
onde em dlírio num dilúvio desaguava
no canal aberto em tumulto me recebesses
culpa o ardor do sangue, nas pedras nos pulsos
num interrogatório enigmático sem perguntas
o corpo sintoniza o outro corpo numa banda
de frequência febril no temível desconhecido
que planta carnívora me tornei, sinto-me capaz
devorar insectos, ou a ti com camaleónica língua
a que cheiram os teus lençóis mornos de ti
e da tua ternura subaquática e marítima