24.11.23
Ela reduz a nada a luz da manhã
com seus braços nus,
com seus ombros firmes
cria rotinas diárias como a deligência dos pássaros
que de ramo em ramo, de rua em rua
juntam-se ao eterno cântico que celebra a vida
nem o espelho sabe o que ela pensa
nem ela sabe bem o que ela própria pensa
nem eu sei o que ela pensa
mas sei bem que ela sabe bem
lembra-me o tempo que
jogávamos às escondidas
e brincávamos à penumbra e
à sombra um do outro cujas
figuras geométricas
se projectavam nas paredes
como esqueletos dançando
atrás de biombos de luz febril
as minhas mãos
desenham no ar sinuosas curvas
como se o amor fosse mármore
e a dor e a verdade viessem
do vácuo num leve murmúrio