04.01.23
Todas as pessoas são sexy,
mesmo aquelas que pensam que não o são
são ainda mais que as outras,
todas as pessoas são sexy
ilhas verdes cercadas pela imensidão azul
distantes de penínsulas feitas de gente
por isso dá-me o teu sorriso,
mulher atrás da banca da fruta
excessivamente desabotoada e livre de filosofias
dá-me o teu sorriso, mulher
quando lava as escadas, pernas abraçadas
pelas suas injustas calças de licra preta
dá-me o teu sorriso, empregada de café
imigrante, ingénua até à medula
imaginário dos velhos se te vêem de costas
sorri-me também, tu que nunca sorris
anónima, altiva e majestosa figura
fere agudamente com olhos de azul cruel
e tu, de óculos escuros, e desenhos azuis
na pele pálida que evita o sol, de dragões e
rosas entrelaçados, tu também
advogada de olhar vago e rosto lácteo
sem advocacia à noite quando a oiço
de portas abertas na sua vontade ígnea
todas as pessoas são sexy
se não o desejam ser, ó feira popular
da blusa aberta quando a carteira cai
ó templo nocturno fechado de dia
aberto de noite se um verso elegíaco
colhe o fruto e a música é a língua que lhe toca
tenho um livro preto de páginas brancas
cheias de cor de lobos uivando ao luar
e sangue vibrante do sorriso,
sorri-me e logo escrevo, para durar
mais que as pedras quando as toco
versos indeléveis mais duráveis que eu