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O Poeta Erótico

13.12.22

Nessa altura a tua vagina entreaberta
olhava-me catatónica, absorta e líquida
como se permanecesse encerrada
numa prisão de veludo, cuja chave
de entrada, ficava no bolso guardada
do intruso, diligente, vigilante
atento ao primeiro raio
do abrir de coxas

nessa altura de estátua estendida
na cama definida num espaço
geometricamente oposto ao amante
o ar nas tuas pequenas narinas
faziam de Éolo um músico
suave melodia delicada
anunciando o sono. Nessa altura
a cortesia da pressa dava lugar
ao vício prematuro, duro de
ficarmos suspensos viajando
num balão de ar quente
na imaginação

lembro-me que ficaste à porta
do extâse para que me visses a
mim, contorcer-me na epilepsia
do sexo, tão ridículos somos
quando felizes e anónimos, fluxo
e refluxo na leitura de livro
aberto que é sentir este
martírio quente de viver durável
e que inexoravelmente virá o fim
colocar um ponto final. Por isso
procuro a fonte, o sopro, a canção
da chuva copiosa, adversa ao espírito
silente de querer sofrer num
último aperto, morrer afogado
num lago estreito, cálido, descomposto
em baba de alguém que sofre
de catatonia crónica.

Come-me o fígado com teu bico
ó ave divina, regenera-o esponjoso
amaldiçoado na eternidade
roubei-te o fogo
do teu corpo onde agora,
agora mesmo
me aqueço no prazer
herético dos deuses

 

06.12.22

Amo ruas apertadas
becos sem saída
escombros e penumbra

não sei que espiral
incerta se vai do topo
ao poço e se bebe sôfrego

o desabotoar da bata
da mulher maluca
dos gatos esmaga-me

o decote da lua
à noite, de baton preto
à gótica lúbrica morde-me

caminho como psicólogo
do verso falhado
dito entre dentes

ouvia-se o piar da ave
não de um ave ave, mas de
de um ânsia, ânsia

que doce cântico lhe
sai, fole apertado
que lhe instiga o fogo

ao longe, o castelo
suspenso num sonho
de nuvens e tinta da china

na cúpula do tempo
a cópula fantástica
mólecula de vidro

de súbito acende-se
uma luz amarela
fleumática, a solidão

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