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O Poeta Erótico

29.09.22

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Deveria espetar-me na cruz
na melancolia da ostra
fechada em silêncio?

ou beber dum trago
esta angústia que trago seguida
de amargura engarrafada

a solenidade com que
nos põem a cabeça no cepo
a facilidade do sabre, à distância

se pudesse, tocariam os
sinos festivos na cidade
ilha do teu corpo

estoicamente fechei a
porta, lograrei ver-te
amanhã ao lado de lado

a ressonância do teu nome
propaga-se no curto espaço
como se tivesse alma deveras

tranquilamente a noite
vai sendo de asas majestosas
mágica, arcana, divina

 O teu corpete é que me aperta
figura de diabólica Mandrágora 
única tentação de Cristo

e a língua lambe lânguida
liberta lubrifica lábio a lábio
sim, não vou parar. lobotomia

28.09.22

 

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O olho trocista sabe
do desespero físico
fode-se o ar na solidão
 
a descoser-me em verso
sofrendo docemente
num anel de polegar e dor
 
e aperto, proibo, ordeno
comando duro durável
desmaio os olhos lúbricos
 
sonho que meto infame
por apertada fenda
num pórtico de rosas
 
páro. quase me atraiço
a pele oculta
o prazer inculto
 
do sangue, não há tapete
mágico que me leve de volta
ao vento da imaginação
 
a serpentina branca
enrola-se, no solitário covil
maior dor, maior gozo 

27.09.22

 

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Tens versos que anseio colhê-los com as mãos

e os meus dedos a escorrerem seiva tépida
excessivamente encharcados de ti, cheirando
a iodo acre e mel turvo

os versos devem ser os braços de Anfitrite
quando vem nos seus cavalos brancos
de braços estendidos de espuma

versos de ventosas de polvo ávido que agarram, sugam, sufocam
como peixe a debater-se fora de água. o estremecer da terra
não me sacia, quero o vulcão explosivo em erupção
expelindo lava ardente, tornando fértil o solo de húmidos lençóis.
Como escavar a terra com as duas mãos
faz-se um buraco, mete-se a mão no fundo e remexe-se
com as pontas dos dedos, assim quero encontrar-te água
esse verso perfeito de músculos retesados que explode
quando se sente o fundo no fundo do profundo,
a carne é duradoura, o verso imperecível
por isso recebe-me, uma, outra, e outra vez ainda
por isso puxa-me, ó campo magnético, faz-me desaparecer
no triâgulo oculto das Bermudas, no teu canal de Suez
onde apertado deslizo inteiro dentro de ti.
se fechar os olhos sinto a pele arrepiada
o motim da carne, a alegria túrgida dos teus seios
a contração das coxas, a lentidão da noite
caindo em ti, sol vertiginoso de inverno de ouro
colho-te o fruto, que o fruto na boca amarga a morte
o odor dos búzios confunde a tristeza, entedia o tédio
vire-se uma cruz ao contrário quando te crucifico
num pau duro que enrijecera da tua imaginação.
Tu, ilha flutuante secreta num imaginário azul
tu, arquitecta do marmóreo desejo endoidecido 
tu, musa impalpável, apalpo-te em verso
suturo a ferida das rosas com o espinho agudo do corpo
cubro o vazio no vácuo de vinil, sinto o
batimento do teu coração quando estremeces
gemes como apertado fole um som emite
tornamo-nos imunes ao tempo, vindimámos
as uvas de luxúria, encravámos as horas
sai-me em verso a serpente branca como se
apertasses a uva e salpicasse a tua boca de sumo

23.09.22

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A ideia de duende dançando dentro

da garrafa vítrea do teu corpo
frio ao som do ritmo imposto

pelo violinista virtuoso possuído
que se superou com notas musicais
de ritmada síncope

Contou-nos Bocaccio num conto
Doentio sobre um padre da cruz
Conseguia expulsar demónio de corpos

Às pobres criaturas incautas e
Incultas que permitiam que o diabo
Demoníaco saísse pelo orifício de fogo

Bastava levantar os andrajos cúbicos
A infernal criatura era logo expulsa
Desse paraíso estreito de lúbrico infinito




(Imagem infelizmente extraída da internet)

 

19.09.22

Sunset.jpg



E se eu viesse ver-te ao fim da tarde,

fosses chão da terra e eu largo sol
eu entardecia

e se por um instante fosse tempo
e chuva ao mesmo tempo de Setembro
e demorassemos a chover um no outro

Ou por um momento falhasse a rede
dos vítreos compromissos projectando
sombras irrequietas nas paredes

e arrumassemos os astros inventando
histórias trágicas como faziam os antigos
eu seria orion, tu cassiopeia

e no entrechocar dos corpos num minuto
fosse imortal e diluísse eternidade
na tua boca sã sabedoria


 

10.09.22

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E de súbito,
Todas as vozes do mundo
No sangue me gritaram

Flâmula ténue no início
suplicio decidir-me
No termo certo

Nos urros vindos de
Bocas sôfregas, trôpego
Coração votivo encriptado

Não há palavra caída
Em saco roto, só na língua
Península perto, bom porto

Não remexo no fundo
Do saco de curiosidades
Que se viesse encharcada

Tímida, tórrida, típica
De rasgar tecidos caros
Em espeluncas baratas

Reles, mais reles, de vir
A ser alcoviteira agil
Do diabo túmido

Ficando-lhe a virtude
À mercê do tigre, à mercê do peito
À mercê da boca

06.09.22

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Não é saudável vestires-te

de pele e infinito
não é amovível o peito
bastardo a espreitar pela blusa
peixe a debater-se com fama
de implacável assassino.

A garrafa de whisky cintilava
uma chama demoníaca dançando
ao som de sol e fel.
Se pudesse daria de beber
aos astros cheios de frio
num céu soberbo
de assombrosa medicina

Não falarei mais da lua.
Falo de ti. Falo para ti
Falo e cresço, esfíngico
no deserto onde te procuro
E não te encontro
apenas dentro do vazio
cálido, num quarto
de sombra zombeteira

Basta que um beijo me escape
bata asas voando ao lugar
Onde a minha boca alada
Fez ninho no
passado em escombros
ó frágil luminosidade
rosada e peregrina

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