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Tens versos que anseio colhê-los com as mãos
e os meus dedos a escorrerem seiva tépida
excessivamente encharcados de ti, cheirando
a iodo acre e mel turvo
os versos devem ser os braços de Anfitrite
quando vem nos seus cavalos brancos
de braços estendidos de espuma
versos de ventosas de polvo ávido que agarram, sugam, sufocam
como peixe a debater-se fora de água. o estremecer da terra
não me sacia, quero o vulcão explosivo em erupção
expelindo lava ardente, tornando fértil o solo de húmidos lençóis.
Como escavar a terra com as duas mãos
faz-se um buraco, mete-se a mão no fundo e remexe-se
com as pontas dos dedos, assim quero encontrar-te água
esse verso perfeito de músculos retesados que explode
quando se sente o fundo no fundo do profundo,
a carne é duradoura, o verso imperecível
por isso recebe-me, uma, outra, e outra vez ainda
por isso puxa-me, ó campo magnético, faz-me desaparecer
no triâgulo oculto das Bermudas, no teu canal de Suez
onde apertado deslizo inteiro dentro de ti.
se fechar os olhos sinto a pele arrepiada
o motim da carne, a alegria túrgida dos teus seios
a contração das coxas, a lentidão da noite
caindo em ti, sol vertiginoso de inverno de ouro
colho-te o fruto, que o fruto na boca amarga a morte
o odor dos búzios confunde a tristeza, entedia o tédio
vire-se uma cruz ao contrário quando te crucifico
num pau duro que enrijecera da tua imaginação.
Tu, ilha flutuante secreta num imaginário azul
tu, arquitecta do marmóreo desejo endoidecido
tu, musa impalpável, apalpo-te em verso
suturo a ferida das rosas com o espinho agudo do corpo
cubro o vazio no vácuo de vinil, sinto o
batimento do teu coração quando estremeces
gemes como apertado fole um som emite
tornamo-nos imunes ao tempo, vindimámos
as uvas de luxúria, encravámos as horas
sai-me em verso a serpente branca como se
apertasses a uva e salpicasse a tua boca de sumo