27.08.22
Queria escrever no teu corpo um poema que fosse
A vida inteira de música dispersa
Acender-te luzes de bazares nos teus olhos líquidos
Cortar a estrada temporariamente ao rio de sangue
Onde pairasses serena de lírio e pele
fome diabólica de ver-te
Mandrágora de submeter-te
Entre calor e frio
Entre a vida de neve e a morte de fogo
Ó desejo doente sempre contido
Numa jarra de barro e martírio duro
Onde a serpente mergulha
Inquebrável sono rotundo.
Nos meus sonhos febris de amor clandestino
És a sombra onde me deito
És o sono onde adormeço
E desapareço em ti como
Espada de óleo e ternura onde deslizo
E peço à mágoa que se retire do quarto
Para afogar-te em lágrimas de chuva e sol
De dor mergulhado na languidez de amantes
Toalha estendida de madrugada irreversível, que é não viver se não forjar o beijo
De mamilo imóvel túrgido
Dez mil léguas submarinas de língua
No triângulo trémulo humedecido.
Penso em ti devagar como
Um assalto à mão armada
Num corpo de lua e
sonho de uma noite de Verão